Na sexta-feira, dia 09, eu tinha marcado a consulta com a Jaira as 11:00 hs. Combinei com meus pais e meu irmão e todos foram. Lá, conversamos sobre a situação da Francine, a recaída, o descontentamento com o médico. Combinamos com a Jaira que aos poucos iríamos falar para a Francine que ela iria mudar de médico. Ela nos explicou muito sobre a dependência química, sobre como deveríamos agir. Na verdade, ela nos explicou muita coisa que poderia ser dita pelo médico da Francine, que nunca quis nos atender. Eu lembro muito bem que minha mãe disse assim: "eu estou com medo de sair de casa e acontecer alguma coisa ruim. Hoje nós temos compromisso, mas acho que nem vamos para não deixar a Francine sozinha". E a Jaira respondeu: "vocês não podem parar a vida de vocês, se for para ter uma overdose, vocês nem precisam sair de casa. Ela pode fazer isso com vocês estando junto." Isso que ela me falou nunca me saiu da cabeça, pois foi o que realmente aconteceu.
Saímos dali, meu pai pegou a Francine e fomos todos almoçar no Shopping Beira-Mar. Interessante porque foi um almoço onde estavam presentes nós cinco, fato que fazia muito tempo que não acontecia. Somente eu, a Fran, o Fábio e meus pais. Foi um almoço atribulado, o local estava cheio, cada um foi buscar comida num lugar. Eu estava sentada conversando com a minha mãe e meu irmão e a Fran chegou e falou: "vamos mudar de assunto porque o assunto chegou". E se sentou para comer. Eu me levantei e fui buscar a minha comida. Quando voltei, ela já tinha terminado e estava indo embora com meu pai. Eu, muito inocente, falei para a minha mãe que achava que ela estava bem. Mas meu irmão disse que dava para perceber que ela tinha cheirado pó. Meu pai a deixou de volta no traalho, e ela foi no Banco do Brasil para fazer um depósito na conta do meu irmão, de um dinheiro que ela devia para ele. Ela ligou para ele pedindo o número da conta. Depois eu soube que ela chamou o S. Hélio, patrão dela, para ir ali porque ela achava que estava sendo seguida por alguém. Ele ajudou e ela voltou para o trabalho. Lá ela começou a fazer limpeza no consultório, jogava água, dizia que tinha que limpar tudo. Eles acharam estranho. Alguns funcionários estavam olhando alguma coisa no computador e ela chegou perto e disse; vocês estão investigando a minha vida? O que vocês estão faznedo aí? O S.Hélio viu que ela não estava bem e pediu para não deixarem ela atender nenhum paciente. Ligou para o meu pai pedindo pra iem buscá-la porque viu que ela estava drogada.
Depois do almoço eu e minha mãe ficamos no shopping. Estava tudo bem, falávamos sobre o casamento do meu irmão. Comprei o sapato e mandei arrumar o vestido do casamento. Estávamos preocupadas porque a Francine não tinha visto a roupa dela ainda. Lá pelas 16:30 hs eu voltei paa Tijucas.
Quando estava no meio do caminho, meu pai ligou dizendo que tinham ligado da Pet Shop avisando que a Francine não estava bem, que era para ir buscá-la. Eu disse: "pai, pega Francine e leva até onde o Alex (meu marido) está, eu vou ligar para ele e pedir para ele esperar e trazer a Francine para nossa casa, deixa que eu cuido dela". Meus pais acharam melhor eles ficarem com a Francine. Eu disse assim: "então leva ela para a casa, tira a roupa dela, manda ela ficar no quarto, não deixa ela ficar com a bolsa. Não falem nada. Amanhã vocês conversam para decidir o que ela quer fazer da vida, se quer se internar novamente".
E voltei para a minha casa preocupada. Meu marido também chegou e eu fiquei tentando falar com minha mãe. Aí descobri que eles estavam na casa de uma tia nossa. Conversei com meu irmão, que já estava em Itajaí. Ele ligou para a minha mãe e nessa hora a Francine estava tendo uma convulsão. Meu irmão me ligou apavorado dizendo: "está acontencendo alguma coisa com a Francine, tu está mais perto de Florianópolis, pega o carro e corre para lá". Eu e meu marido fomos e logo que pegamos a estrada meu pai ligou chorando, desesperado, gritando o que tinha acontecido.
Não havia mais o que fazer. Meu chão caiu. Falei com o médico que tinha tentado salvá-la, mas ela teve 3 paradas cardiácas. Ele me passou o telefone da funerária que eu precisava ligar. No carro fui fazendo as ligações. Eu tremia toda, batia o queixo sem parar. Fiquei anestesiada. Não acreditava que aquilo estava acontecendo com a minha família. Chegamos no apartamento da minha tia e estavam todos muito nervosos, ela ainda estava lá. Não consegui ver o rosto dela. Chegou o IML, para buscar o corpo. Fui para a delegacia com meu marido, para a funerária. Naquela noite eu e meu marido resolvemos tudo. Até hoje não sei onde tive forças para fazer tudo o que fiz, praticamente sem derramar uma lágrima.
Fomos para a casa de meus pais, a casa cheia, o telefone tocando sem parar. Até hoje não sei como avisaram tanta gente e tão rápido. Eu só queria ficar no meu canto. Não conseguia conversar. Porque além de ter que contar para as pessoas que a Francine tinha morrido, ainda tinha que explicar o motivo, e todos ficavam chocados, porque quase ninguém sabia que ela era dependente química em tratamento. Os amigos dela diziam: não, a Fran não, A Fran é festeira, bebe todas, mas não usa droga.
Voltamos para Tijucas. Tentei descansar, mas claro que não preguei o olho. Esperei amanhecer, tomei banho, fui levar roupas para a minha filha que estava na minha cunhada. Passei na minha sogra e só então me dei conta que tudo era verdade. Comecei a chorar e não parei mais. Havia perdido a minha irmã para sempre. Como aceitar isso? Como contar para a minha filha que gostava tanto dela?
Fomos para Florianópolis. Meu pai e meu irmão estava resolvendo os detalhes que faltavam. O corpo só chegou as 13:00 hs, se não me engano e o enterro foi às 17:00 hs. Nunca imaginei que iria passar por isso na minha vida.
Tinha muita gente, mas não sei se algum amigo dela que também era usuário foi ao enterro. O cara do restaurante acho que não foi. Não sei se o menino que ela tinha saído algumas vezes, o Adriano, esteve lá.
O ex-namorado dela estava inconsolável. Se sentia culpado por ter acontecido tudo isso. Mas de forma alguma ele pode ser culpado. Foi um namoro longo, de 4 anos, mas que infelizmente não deu certo. Os dois tinham gênio forte. Não deu, cada um foi para o seu lado seguir sua vida, o problema é que ela se envolveu com pessoas erradas, que mostraram uma "solução" para a tristeza dela, que acabou levando ao fim de sua vida.
Perdi minha irmã com 26 anos de idade para as drogas. Isso é terrível! Nos sentimos impotentes diante dessa situação.
Não deixem que isso aconteça com a família de vocês! Quem está passando por algum problema, por favor, busque ajuda. Não desista de viver. Todos nós somos importantes!
Um grande abraço
Isabela