quarta-feira, 26 de maio de 2010

Sobre o Décimo Oitavo Dia

Conforme foi relatado, no dia 01/07 nós fomos visitar a Francine. Chegando lá ela nos entregou várias cartas que escreveu para a família. Nesse dia nós conversamos um pouco, só nós duas, porque eu queria saber como ela estava se sentindo. Percebi que ela não estava legal. Dizia que estava cansada do lugar e queria vir embora e voltar a ter a vida de antes das drogas, só com bebidas. Como se fosse simples, num estalar de dedos. Como já falei, ela não tinha consciência da doença, achava que bastava querer que ela conseguiria superar tudo. Eu tentei explicar que não era bem assim, mas quem conheceu a Francine sabe que ela era uma pessoa bem difícil de aceitar a opinião dos outros. Desse dia em diante ela começou a fazer a maior pressão para sair. ligava para os meus pais, me ligava, falava para o médico. Dizia que já estava bem e poderia voltar  para casa.
Eu acho que as pessoas que estavam na clínica eram muito diferentes dela. Ou tinham outras doenças, como ela comenta, ou então as que usavam drogas eram muito diferentes. Para mim a relação dela com a droga foi esquisita. Ela não usava para sair e ir numa balada, ou para fazer festa com os amigos. Ela usava em casa, sozinha, eu acho que antes do trabalho, para se manter acordada. Ou na casa de amigos, mas sempre de uma forma mais calma. Nunca se meteu com roubo, polícia, brigas. Ela não se endividou com o uso da droga. Todo mundo gostava dela. Todas as pessoas do mundo da droga que ela convivia, amigos, traficantes que ela comprava, tinham um animal que ela cuidava. Ela misturou o seu lado profissional com a droga. E foi tudo muito rápido, porque ela comecou a usar em julho de 2008, conheceu o cara que a deixou realmente viciada em novembro do mesmo ano, em março de 2009 eles terminaram. e foi a partir daí que o negócio perdeu  o controle. Ela começou a usar quase todos os dias. Mas dia 15/06 ela foi internada. Então foi pouco tempo de uso e o vício tomou conta de todo o seu organismo.
A seguir vou colocar a carta que ela me entregou no dia da visita. Você vão perceber o quanto ela está confusa, e começa com a história de sair de lá.

Oi Minha querida irmã!


O período que estou passando está sendo muito prazeroso e angustiante, legal e decepcionante. Sobre meu passado, as coisas que fiz tenho vergonha de falar, mas podes ter certeza que também não foi o fundo, tão fundo do poço, de chegar a roubar ou até mesmo me prostituir como diz nos livros e muitos arquivos. Eu caí na lama de não ter mais o controle da cocaína, de gostar muito disso e de deixar até mesmo de beber tanto e substituir pela droga. Ficava sem dormir e angustiada sempre querendo mais. Nunca mais vou querer chegar ao nível da lama que estive. Quero chegar a ser a Fran de antes. Mas não tenho como te explicar isso. Não me vejo internada muito tempo, aqui trancada.... não está mais sendo legal. A angústia de não estar ao lado de vocês está maior do que a angústia da falta da cocaína. Aqui tem uma energia horrível. As pessoas são completamente loucas a ponto de ficarem procurando drogas, cogumelo para fazer chá, as madames peruas com suas palavras sem nexo algum, com seus problemas depressivos de fazer nada. Outro com diabetes, comendo doce e tomando coca-cola, querendo chegar a um ponto de cometer alguma loucura, e ontem até chamou algumas pessoas para fugir daqui e ir num bar beber... é um Big Brother, mas com certeza pior. Se juntam para fumar e um fala do outro ou contam seus problemas... assaltos, tráfico, brigas, suicídios, reclamando de tudo o tempo todo. Quando notei isso, me afastei e comecei a cuidar de mim, ficar longe de todo mundo, fazendo minhas coisas sozinha, tentado ler, escrevo sempre, rezo, leio a bíblia e participo dos grupos, que são completamente diferentes dos que vimos nos filmes... é tudo muito diferente aqui. Alguns já tiveram em outros lugares e dizem ser piores, que aqui é o melhor, mas não sei.
(Aqui ela conta um pouco da clínica, da rotina diária, das atividades em grupo. Não é necessário relatar porque é o que todos estão lendo no diário. Mas ela critica muito o lugar e a forma como é feito o tratamento)
Não sei mais o que fazer da minha vida..... não estou mais suportando ficar aqui, quem sabe ficar aí na tua casa sob vigia total, limpando a casa, já que estás sem empregada, cuidando da Lilica (é a cachorra), sei lá!!!!!
Em Floripa tenho muitas lembranças, quero sair de lá um pouco, quero ficar com minha família e sair desse lugar de loucos, pelo amor de Deus, e ser tratada em casa, nem que ficasse trancada no quarto.
Não sei mais o que dizer!!!! Estou perdida e ficando cada vez mais louca com essa gente louca. Estou louca para comemorar um aniver ou algo só nós família: pai, mãe, Fábio, Rafa, tu, Alex, Clara e Lilica....
Que saudade de um vinhozinho ou um choppinho. Se que não posso... mas a minha fissura diminui a cada dia e estou sendo elogiada. Serão meses e meses de tratamento!
Preciso estar ao lado de vocês e não mais aqui. Tô com nojo!
Beijos
Te amo!!!!!!! Fran

Um grande abraço para todos, e obrigada por estarem acompanhando o blog.
Isabela

3 comentários:

  1. Isabela...
    Chorei ao ler a carta...como deve ser dificil para vocês....quando leio o diário dela acho que ela não foi para o lugar certo..mais afinal, qual é o lugar certo? O que aconteceu de errado com essa garota tão amada por todos...???
    Bjo Bê

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  2. Oi Bela!

    To acompanhando sempre...
    Realmente, na carta ela se mostra confusa e indecisa...

    Beijos,
    Goro

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  3. Ola. Descobri o blog agora, foi divulgado no orkut e quiz olhar.

    Passei por uma situção igual com meu irmão. MAs felizmente a historia dele tem um final feliz.

    Meu irmão começou a usar dorgas com 13 anos. Passou por 3 internações, tentou parar sozinho por diversas vezes, mas era aquilo ficava um mes no maximo 3 meses sem nada.
    Começou com maconha, depois cocaina e logo quando começou usar o crack, na ultima recaida foi o Fim.
    Meu irmao sempre foi atleta, fazia karatÉ, e trabalhava desde de novo. Graças Deus Não roubava, pois usava todo o salario em Drogas. Influenciados por amigos no começo, mas depois que fica dependente a pessoa fica só.
    Li nesse seu post a relação estranha de sua irmã com a droga. MAs é assim mesmo que funciona. no inicio é so com os amigos, depois só a balada, depois eu tenho o controle só uso no fim de semana depois uso quando tenho vontade. E por ultimo começa a se isolar, e usar sozinho.
    Meu irmao ficava o fim de semana inteirinho trancado no quarto consumindo.
    LArgou a escola, os amigos. Tudo era a cocaina.
    Na ultima recaida meu irmao chegou a pesar cerca de 47 quilos com 1.82 de altura. Ele definhou. Se internou ficou 2 semanas e quando saiu decidiu nunca mais usar.
    Graças a Deus ele cumpriu a promessa. Largou os amigos, o trabalho o ambiente em que ficava. Começou a frequentar uma igreja, "nao faendo apologia a religioes", cada um encontra força no que precisa para se recuperar. Ele encontrou a igreja. Pessoas com pensamentos e atitudes que fizeram bem a ele.
    Em fevereiro desse ano ele se casou, com uma mulher que soube entender e ajuda-lo nesse processo. E tem um ano sem usar nada.

    Sei como irmã o que vc passou, vendo uma parte sua ido embora. E vc por mais que quisesse nao conseguia mudar as coisas. POr mais que falasse que escutasse, A gente se sente incapaz. Mas nao somos. A familia é tudo para dependente quimico. E quando ela esta junto no que for eles se sentem inseguros. Uma pena sua irma linda jovem ter se perdido nesse mundo obscuro. Com mais tempo tenho certeza que ela teria se recuperado. MAs Deus sabe de todas as coisas. E esse blog vai ajudar muitas familias e pessoas com o mesmo Problema.

    Força

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